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Esta é uma net-expressão da
QUINTA DA BORRACHA, vocacionada para os que têm a felicidade de a conhecer, e não só..., que permite partilhar e divulgar as suas actividades e belezas naturais, comentar assuntos e publicar intervenções.
Um local livre, que não faz bem nem mal, antes pelo contrário, mas que pode dar muito ... tanto quanto todos quisermos dar.

Todas as fotos de natureza foram obtidas na própria Quinta
Convido-vos à leitura ansiolítica e ao comentário...

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Final de Ano - A Noite em Festa

Para os que vieram, será para recordar, para os que não puderam estar presentes será para ver o que perderam, para os que não quiseram vir, será para não voltarem a cometer o mesmo erro.
Da gastronomia há a considerar:

- entradas variadas, com forte componente de marisco (sapateiras e camarão), leitão assado, presunto, queijos diversos, azeitonas, patés, etc.;
- bebidas: águas, vinhos tintos, brancos, espumantes, cerveja de barril e de garrafa, sumos e refrigerantes, aperitivos q.b. e outros;
- prato principal: suave feijoada de feijão preto, com carne de porco (entrecosto, lombo e entremeada), muitos espinafres e enchidos diversos (chouriço carne, morcela, farinheira), lentamente amaciada com abóbora, muito carinho e lume brando;
- sobremesas diversas, com arroz doce, mousse manga, bolos caseiros, lampreias de ovos, farófias, bolos regionais, bolos secos, etc.
- cafés e digestivos
- fogo de artifício exterior à meia-noite
- banho na piscina a seguir (só uns eleitos)
- espectáculo ao vivo
- permitido fumar (durante toda a noite)

Início - 18H00 2007
Final - 06H00 2008
Do resultado final , deixo-vos esta sequência de imagens e um grande abraço.

1 comentário:

Anónimo disse...

O VELHO DA BENGALA
Era final de tarde de 31 de Dezembro de 2007, o Sol desaparecia por detrás dos prédios do outro lado da minha rua. Apoiado no parapeito da janela, olhava a rua em baixo observando o vaivém das pessoas e carros que, neste dia, era mais intenso do que o habitual. Daí a pouco realizar-se-ia a famosa corrida de S. Silvestre da Amadora.
No meio daquela gente vi então, um velhinho de barbas brancas que, apoiado na sua bengala, caminhava cambaleando pela rua abaixo denotando grande dificuldade em se equilibrar e também de se orientar, parecia perdido. Fixei então, toda a minha atenção naquela figura e achei estranho que ninguém, ao contrário do que é habitual nestas circunstâncias, o ajudasse a atravessar a rua ou lhe perguntasse se estava a sentir-se bem e se precisava de alguma ajuda. Pelo contrário, vi as pessoas afastarem-se à sua passagem e algumas até o empurravam e insultavam, gesticulando de punhos fechados na sua direcção.
Nessa altura reparei, também, que a circulação automóvel tinha sido cortada e que o número das pessoas que circulava lá em baixo e que ia formando um cordão ao longo dos passeios, tinha aumentado consideravelmente.
Porque a algazarra em volta do velhote ia aumentando à medida que ele caminhava, cada vez com mais dificuldade, pela rua abaixo e porque não era normal aquele comportamento da parte destas pessoas, normalmente, tão solidárias, resolvi descer à rua para ir verificar o que, afinal de contas, se passava.
Questionei algumas pessoas para tentar perceber o porquê de toda aquela animosidade contra aquele velhinho e para, se fosse possível, dar-lhe uma ajuda. Porém, logo recuei nas minhas intenções porque um coro de vozes vociferando em uníssuno se levantou dizendo que ele era um malandro sem vergonha e o grande responsável por tudo o que lhes tinha acontecido de mal durante o ano. E como se isso não chegasse, ainda tinha o descaramento de vir para a rua provocar as suas vítimas.
Culpavam-no pelo aumento do desemprego, dos impostos, dos combustíveis, dos bens de consumo:leite, pão, fruta, peixe, carne e todos os outros, pelo aumento das taxas de juro à habitação, pelo encerramento de centros de saúde, maternidades, hospitais e esquadras de polícia, pelas leis que favorecem os ricos e os espertos e desproteje quem trabalha e é honesto, pelos cortes das verbas para a saúde, para a educação e para a habitação, pelas novas leis de trabalho que, cada vez mais, prejudicam os trabalhadores, pela corrupção e finalmente pelo aumento e impunidade da criminalidade. Enfim, tudo lhe era imputado sem dó nem piedade até ao ponto de, eu próprio, tanto ouvir aquele rosário e de ver que o velho nem sequer fazia um gesto para se proteger ou sequer contestar as acusações, acabei por concordar com aquela gente e juntar a minha voz à deles naquele coro de indignação. "Quem cala consente, diz a sabedoria popular!"
De repente ouvi a sirene das motos de dois batedores da polícia que, afastando as pessoas para os passeios, desciam a rua abrindo caminho. Todos os olhares se viraram então para um jovem forte, bem-parecido e equipado a rigor que, acenando às pessoas, corria alegre pela rua abaixo. Atrás dele vinha uma multidão ruidosa que incentivava todos quantos estavam na rua a juntar-se a eles. Assim aconteceu, muita daquela gente juntou-se ao grupo e lá foi gritando de alegria. Na confusão que se gerou, ninguém mais se lembrou do velhote da bengala.
Porque já não tenho vida para correrias, fiquei ali parado, juntamente com um pequeno grupo, vendo a multidão desaparecer ao fundo da rua. Quando tudo se acalmou reparei, assim como os outros, que no meio da rua estava uma pessoa estendida e bastante maltratada. Tinha sido atropelada e espezinhada por aquela multidão desenfreada que, eufórica, tudo levava na sua frente.
Só quando nos aproximámos me apercebi que era o tal velho que tinha sido alvo dos protestos populares. Debrucei-me sobre ele e vi que, embora com muita dificuldade, ainda respirava. Olhou para mim com o olhar triste de quem sabe que o seu fim está prestes a chegar. Nesse olhar percebi um pedido de ajuda ao mesmo tempo que os seus lábios pareciam querer dizer algo. Inclinei-me um pouco mais e ouvi, então, ele pronunciar num sussurro: Perdoem-me, eu não sou culpado, é verdade que fiz tudo isto de que me acusam mas fui obrigado a fazê-lo. Os verdadeiros culpados ainda por cá ficam e não vão parar, por isso, fiquem alerta.
Agarrei a telemóvel e liguei para o 112, eram vinte e duas horas e dez minutos.
Quando o INEM chegou, duas horas e tal depois, já passava da meia-noite e o homem já tinha sucumbido, morrera precisamente quando no relógio da igreja da Falagueira soava o último dos doze toques que assinalavam as vinte e quatro horas.
Ainda assisti ao embarque do corpo na ambulância e, quando lhe desabotoaram o casaco para verificarem se trazia alguma identificação nos bolsos, vi uma chapa enferrujada pendurada ao pescoço por um cordel seboso, que tinha uma gravação, já bastante sumida, que dizia: eu sou o ano velho.
Enquanto regressava a casa, veio-me ao pensamento aquele jovem que tinha passado correndo rua abaixo arrastando, atrás de si, aquela multidão e, então, como que num flash, vi na frente da sua camisola escrito a letras douradas: EU SOU O ANO NOVO. Nas costas, igualmente em letras douradas, li: SIGAM-ME QUE NADA VOS FALTARÁ.
Subia lentamente as escadas quando dei por mim a falar sozinho e a dizer em voz alta: - Pois é! O outro que morreu há pouco, ali na rua, também prometeu isso há um ano atrás, vê lá o que lhe aconteceu!
Liguei a televisão e vi as imagens da euforia de milhares de pessoas, em todo o mundo, saltando em volta do tal rapaz forte e bem-pareceido que, ainda há pouco, tinha passado na minha rua, correndo feliz.

Morreste sem deixar saudade
E de pronto foste esquecido
No trono logo se sentou
Outro Rei, por todos, querido

"Morreu o Ano Velho, viva o Ano Novo! Que floresça colorido e transforme Portugal num imenso jardim, onde todos possam colher as flores!"