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domingo, 27 de abril de 2008

Eu nasci depois ...


Tx ^^ deixou um novo comentário na sua mensagem "25 de Abril 2008, na Quinta":

Eu nasci depois..

O 25 de Abril é-me ilustrado pelos que o viveram, os que comemoraram, aqueles que ainda o vivem e lutam todos os dias por um 25 de Abril estável, unido e razoável.
E eu... que farei?Que faço, sabendo que não vivi a opressão, que não senti o medo, que não forcei a ruptura, que não trabalhei pela liberdade e justiça (possivel) que tenho hoje?Que faço?

Só posso fazer uma coisa..cantar as revoluções liricas que foram aprisionadas anos, cantá-las como se saíssem do meu coração, em memória daqueles que morreram pelas notas com que são feitas.Aprender os feitos do mal e a sua revolução para que se um futuro parecido se aproximar possa preveni-lo. Ouvir os conselhos e as histórias dos revolucionários para que um dia possa eu transmitir esses saberes ás gerações futuras..

Eu nasci depois..e depois?
Posso senti-lo como se a história me entranhasse nos genes. A festa também é minha. Eu também canto a revolução. E luto por um 25 de Abril constante.

Eu nasci depois..Outros virão. Mas a história continua..

M. e I. obrigado por terem vindo. Significou muito. Haverá outro 25 de Abril, mas este é vosso.

Publicada por Tx ^^ em Placebo a 27 de Abril de 2008 22:38

3 comentários:

Anónimo disse...

À medida que o tempo passa, a data que se comemora a 25 de Abril vai ficando cada vez mais difusa.Explicar o que se passou começa a ser dificil, pois, com facilidade, se entra no reino do mito e da historieta.
A geração que nasceu depois do 25 de Abril terá dificuldade em percepcionar a importancia da "revolução dos cravos" - desde logo original e única, onde não houve derramamento de sangue e o regime caiu de podre.
O que foi o Salazarismo? Como era o Portugal antes de Abril?
O que era/foi a Guerra Colonial?
Que emigração tinhamos e porquê? Que economia existia, como se vivia a cultura?
Para se explicar a data, tem de se construir um puzzle, um mosaico, um vitral que peça a peça diga: FOI BONITO,PÁ!

Anónimo disse...

... Que fazer?
Tu que pensas e és livre, nunca desistas de aprofundar os teus conhecimentos sobre aquele dia de Abril que permitiu que tivesses nascido liberta de grilhetas.
Depois, continua a cantar o Abril da Revolução dos Cravos:
- Enaltece as suas virtudes
- Critica os seus defeitos
e se alguém tentar abafar a tua voz, canta mais alto, ainda, mas jamais deixes de O cantar.
Verás que, cantando Abril, o jardim manter-se-á florido com cravos vermelhos e, ao mesmo tempo, estarás a ensinar às gerações vindouras o que é ser livre e poder ter pensamento!

Um xi-coração e obrigado pela nota de rodapé (M)

Anónimo disse...

34 anos depois do 25 de Abril que pode hoje dizer, um indivíduo que atingiu nesse ano a maioridade?

Que “foi bonita a festa, pá!”. Fiquei contente, de facto, como a esmagadora maioria do povo português , também ficou.

Por isso, a imagem que melhor define o 25 de Abril, para mim, é a de uma foto, supra, na revista Século Ilustrado, de 4.5.1974, em que se mostra o povo anónimo, em manifestação sem bandeiras ideológicas.

Outra imagem que reflecte o espírito do 25 de Abril, tal como o vivi, é a de um músico e da música de protesto que então apreciava, porque de valor e qualidade inquestionáveis, mesmo pelos padrões actuais.

José Mário Branco, cantor de timbre perfeito, tinha produzido, antes de 25 de Abril, em 1971, um disco de grande qualidade: mudam-se os tempos, mudam-se as vontades.


De há 34 anos a esta parte, que mudou, nas vontades?


No dia 25 de Abril, durante a tarde e noite, e dias a seguir, podiam ouvir-se na rádio, algumas músicas que nunca tinham passado nos programas, por causa da censura. O soldadinho, de José Mário Branco, era uma delas. Tal como outras. Sabia bem, apreciar a novidade da liberdade de se poder ouvir cantar livremente.

No dia 25 de Abril, à noite, a tv mostrava os locutores de serviço, sem gravata. Sabia bem, poder ver que o formalismo retórico, não precisava de gravata, porque tinha sido esse o grito dos assistentes ao I Encontro da canção portuguesa, realizado uma semanas antes, no Coliseu de Lisboa: “tira a gravata, pá!”, ouvira gritar, Carlos Paredes.

Foi por isso com grande satisfação que foi possível ver, na revista Flama , quinze dias depois, a reunião dos cantores do canto livre, da canção portuguesa.

Entre eles, José Mário Branco, na foto aqui publicada (acompanhado de Francisco Fanhais e outros na foto a seguir, como Zeca Afonso, José Jorge Letria e Adriano Correia de Oliveira) , na mesma revista Flama, de 17.5.1974








Na revista Tabu, hoje publicada com o Sol( foto abaixo), José Mário Branco , dá uma entrevista “de vida”, onde reflecte sobre 34 anos de democracia e utopias. Sobre o dia 25 de Abril de 1974, diz assim:

“Pergunta: aquilo foi uma revolução? Ou foi uma descompressão social depois de 48 anos de ditadura? A 24 de Abril de 1974 quantas pessoas estariam dispostas a vir para a rua protestar e exigir a fábrica, a herdade, a democracia? Quantas? Houve uns militares descontentes que por razões completamente corporativas se começaram a juntar e vieram para a rua. A minha discussão muitas vezes com os meus companheiros de luta é esta: “se não for capaz de fazer a revolução dentro de mim próprio, vou ser capaz de a fazer na sociedade? ´”

E o resumo de uma vida, que deixa muito que pensar:

“Tenho 65 anos e ando entalado há 50 entre duas igrejas. Uma que me conta a história de Cristo de uma maneira que não posso aceitar e outra que me conta a história do socialismo de uma maneira que não posso aceitar. Quer isso dizer que tudo o que li e em que acredito está provado que não funciona? Não. O que está provado que não funciona é a distorção de tudo aquilo em que acredito. Os se faz a sério ou não se faz. “

Percebo muito bem este discurso. O da utopia permanente e que redundou em desgraças maiores, quando levada a consequências organizativas, com armas na mão. As FP 25, por cá, são o exemplo.


Será que a mudanças dos tempos, trouxe mudança de vontades?


Tal como John Lennon escreveu: “Dizes que queres fazer uma revolução. Está bem, mas primeiro deixa lá ver os planos...”