Hoje é dia de Natal ... dia do nascimento de Jesus Cristo.
Foi-se a ceia, foram e vieram presentes, e hoje... há descanso.
E gostava que tivesse sido assim com todos, em todo o Mundo, mas sei que não foi...
Muito há a dizer sobre o tema, como pode ser visto, vivido, desconhecido ou ignorado nos vários centros da humanidade e sobre os valores que cada um absorve para si. Mas ficará para outra altura.
Quero apenas dar-vos uma prenda, como sempre através da fotografia.
Deixo-vos com o nascimento de uma flor (parece uma pérola).
Bom Natal.
1 comentário:
Foi-se o Natal e, com ele, a psicose consumista que provoca o exagero de desperdícios dos bens de consumo, sobretudo bens alimentares, que tanto jeito fariam a quem, durante todo o ano, passa fome e não tem uma vida condigna.
Então! E o amanhã?
ERA UMA VEZ ...
(O Dia Seguinte)
O Céu estava estrelado e o frio que eu sentia gelava os ossos. Dei por mim voando sobre as ruas e vielas da minha cidade e, tal como Ícaro, senti-me feliz porque voava e podia observar, sem ser notado, toda a sua beleza que, contrariamente ao habitual, estava iluminada por milhões de lâmpadas coloridas.
Porém, a magia daquele momento foi um Sol de pouca dura. Um vento, em turbilhão, veio perturbar toda aquela calma e, logo de seguida, as imegens que passei a observar, lá em baixo, deixaram-me ainda mais gelado, ao mesmo tempo que era invadido por uma enorme tristeza. Olhei, então, com mais atenção e:
Vi uma multidão correndo, de um lado para o outro, e que se atropelava para entrar nas lojas e nos Centros Comerciais e que depois saía com os sacos cheios de nada.
Vi uma criança que, chorando em frente à padiola de um vendedor ambulante, pedia à mãe um brinquedo que ela lhe negava por não ter dinheiro para o comprar.
Vi um mendigo, de olhos arregalados, em frente a uma montra recheada de doces, certamente, pensando como deveriam ser gostosos.
Mais além vi um sem-abrigo preparar a sua cama numa das entradas do Metro: com pedaços de cartão fazia o colchão e de jornais, já lidos, fazia os lençóis e os cobertores para se agasalhar.
Numa esquina mais escura vi um vulto encostar uma navalha a um transeunte mais descuidado e sacar-lhe o pouco dinheiro que ele levava.
Em tendas improvisadas, ou então debaixo das arcadas de alguns edifícios, vi pessoas distribuindo sopa quente e alguma comida sólida aos que fazem das estrelas e do céu da minha cidade o seu tecto protector.
Voando, continuei percorrendo todos os bairros da cidade e vi, em todos eles, famílias reunidas em volta da mesa saboreando bacalhau cozido, cabrito assado, suculentos doces e depois, ao redor de um pinheiro iluminado, abrirem os mil e um embrulhos dos presentes que iam trocando entre si.
Por fim, em algumas associações e clubes de bairro, com cenários montados para a ocasião e sob os holofotes das televisões, vi colarinhos brancos e casacos de peles ceando e confraternizando com pessoas pobremente vestidas, de cabelos desalinhados, a barba por fazer e que nada tinham a ver com a sua condição social.
Foi nessa altura que novo turbilhão de vento me sacudiu e eu acordei sobressaltado. Ajeitei a cabeça na almofada e, só então, me lembrei de que era noite de Natal e que eu tinha estado a sonhar.
Afinal de contas, disse eu falando para mim mesmo, se era noite de Natal, porque não tinha eu visto, em momento algum do meu sonho, o Pai Natal?
Levantei-me cedo no dia seguinte e fui percorrer, a pé, as ruas e vielas da minha cidade. Tal como no meu sonho, estava um frio de gelar os ossos.
Vi pessoas que, ao passarem, desejavam boas-festas aos amigos e conhecidos. Vi outras que, de cabeça baixa e ar tristonho, parecia não saberem que era dia de Natal. Vi vultos passarem droga num canto de uma qualquer praceta. Vi uma mulher ser assaltada depois de levantar dinheiro no multibanco. Vi toneladas de caixas, fitas e papéis coloridos amontoados junto aos contentores do lixo. E, finalmente, vi silhuetas remexerem nos caixotes de lixo à procura da comida que se esbanja nesta quadra.
À noite e já em casa, vi nos telejornais imegens de alguns figurões de gravata que, sorrindo para as câmaras, confraternizavam com gente humilde de cabelo desalinhado e barba por fazer, e com ela se sentavam à mesa nas ceias de Natal promovidas pela caridadezinha hipócrita e bafienta.
Se, no meu sonho, me tinha sentido triste, maior tristeza senti enquanto percorria as ruas da minha cidade. Afinal, eu não tinha sonhado! A realidade, nua e crua, ali estava: A minha cidade era, mesmo, assim!
Enviar um comentário